sábado, 25 de junho de 2011

Hora do pulso.

Entrei numa fase de Pai babão. Daqueles que carregam tudo quanto é coisa pela rua e leva pro filho; que não pode ver nada na vitrine que quer comprar; uma música que lembra, um presente querendo dar. Mas nem só de admiração vive um Pai, muito menos o filho. É preciso educar, ensinar, direcionar os caminhos. Benedita já tateia passos, já consegue fincar os pés no chão, até ousa balbuciar coisas... E como fala, a bendita! Não puxou o pai. Não mesmo. Nesse processo, estou justamente na fase de ajustes: educar o filho ali nascido e já meninão. Momento de dizer "nãos", de podar, desdizer o que disse, reafirmar novos desafios, CONFIAR no filho por mim gerado. Acho mesmo que pai tem medo de deixar o filho sair de casa, de apresentá-lo, de quererem levar... sei lá. O pior é que eles crescem e sempre saem de casa. Ainda bem. Deixando de lado a licença poética eis que chego nessa fase essencial numa criação artística: a das escolhas. Após três meses de ensaios práticos e improvisações consegui levantar algumas possibilidades de cenas e discursos. A construção da personagem já esboça uma certa autonomia. Como diz meu diretor Fabinho: "Benedita já é". Resta agora decidir os rumos dramatúrgicos, costurar as histórias já criadas, reafirmá-las num varal de idéias e reviravoltas. Hora de educar mesmo. Hora difícil. Hora cuidadosa. Hora do pai mostrar que é pai.





domingo, 12 de junho de 2011

Inhás Comadres

Assistindo As Centenárias, peça estrelada com maestria pelas atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão, pude notar diversas semelhanças do espetáculo com o universo de Benedita. Como se não bastasse o painel popular, tecido através das vozes de duas carpideiras que contavam e viviam situaçoes diversas durante os cantos nos leitos de morte, o espetáculo remonta também uma grande brincadeira: circo, atriz, personagens, mamulengos. Unidos vertiginosamente numa lona criativa, costurados quase que freneticamente por uma agilidade cênica incrível das atrizes, a platéia seguia e acompanhava passo a passo cada história contada e vivida pelas personagens protagonistas. As vezes, porém, um pouco confusa, tamanha agilidade impressa durante as cenas. Mas que no meu caso, não comprometeu a atenção. Durante os cantos das personagens uma peculiaridade surgia quase que sutilmente sobre aquelas criaturas. Individualizava-as. Os gestos repetidos, marcados: a cabeça balançando, o corpo inclinado, o rosto franzino e, sobretudo, a constução vocal que lindamente definia e caracterizava cada uma. Andréa Beltrão, por exemplo, conseguiu imprimir um tom muito interessante para sua carpideira. Em Benedita, o trabalho vocal vem sendo um ingrediente essencial para a construção da personagem. Assim como na peça As Centenárias, onde essa característica  se destaca, a singularidade da voz de Benedita tem grande valia na corporificação da mesma. Uma vez que os gestos são bem marcados, os trejeitos repetidos e, nesse caso, com pouca agilidade física. Benedita imprime ações mais inertes, pausadas. Grande parte de sua personalidade e de suas características aparecem na composição vocal. O desafio de se criar uma voz feminina, velha e reticente sem se tornar piegas e caricaturada. Interessante ver também na peça os signos dos mamulengos sendo usados como personagens. Ou também os fantoches das duas mulheres rezadeiras. Andréa e Marieta ora assumiam suas funções ora interpretavam outras pessoas da trama. A voz portanto teve uma importância crucial durante a feitura dessas outras vidas. Uma noite feliz e produtiva também. Muito bom se ver no outro, se ver no palco. Inspirar-se. Um "cadinho" de poesia, referências e arte.



As Centenárias. 
Teatro Castro Alves - Salvador (BA)
12/06/2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

Cor... gesto... olhar...





 Inspiraçao!

2 meses, 25 dias, 8 horas e 28 segundos.

No set com elas...



Meados de Março (2011) quando, de fato, na prática comecei os ensaios, algumas referências me saltaram os olhos. Em Fevereiro,tinha acabado de gravar um filme no interior da Bahia (Braseiro) e lá tive o contato com um grupo de três senhoras cantadeiras que também participaram do curta. Fiquei fascinado. Elas tinham um "quê" daquilo que eu imaginava para Benedita. Eram simples, cada uma na sua peculiaridade. Quando cantavam uma atmosfera nova surgia. Impressionante. Todos paravam para ouvir. Eu não saia de perto delas... Peguei um celular às pressas e gravei tudo o que podia daquele momento único. Não queria filmar mais. Sentei aos seus pés e de lá não tirava os olhos. Fique meio calado, observando cada gesto, cada canto, cada olhar daquelas criaturas tão inspiradoras. Na volta pro hotel, no meio da madrugada, por volta das 4hs, fiz questão de ir no mesmo carro que elas. Acertada decisão. Descemos a serra de Milagres-BA ao som onírico e retumbante daquelas vozes interioranas. Era um misto de reza com cantos num coro muito, mas muito mágico de se ouvir. Numa das minhas conversas uma me disse: Tive três filhos mas todos morreram pequenos. Pneumonia. Meu marido me abandonou... Resolvi cantar pra ver se curava a alma. Eu perguntei: E curou? (uma lágrima desceu dos seus olhos) Bora cantar... que eu to com frio... Nanai, nanai, nanai meu menino... nanai, nanai... nanai meu amor.... E então fomos gravar. Era aquilo. Um estalo. Aquela senhora tinha uma vida inteira nas costas. Ela carregava muita coisa. Seu olhar dizia, seu gesto quase inerte falava, seu canto desaguava. Cheguei no hotel. Tomei banho, deitei na cama. Um,dois,três cobertores.




segunda-feira, 6 de junho de 2011

Entre trapos e retratos...

2 meses, 24 dias, 6 horas e 15 segundos...                                    

   
Após o ensaio de hoje, resolvi tirar algumas fotos de alguns elementos que venho usando para a construção do espetáculo. Com o encaminhamento do processo bem como os direcionamentos da dramaturgia, tais objetos estão sendo cruciais para a criação de Benedita. Tudo o que é improvisado em sala é devolvido à cena em formas poéticas e dramatúrgicas. O processo inverso também está acontecendo: da escrita no papel para a cena. Enfim. As vias de criações do espetáculo estão partindo de todos os lados. Fotos, imagens, textos, quadros, pintores, documentários, escritores, notícias etc.



Ô naná, é naná que puxa a linha...
É naná, é nana mesmo...
É naná que puxa a linha...
(Benedita)



Ensaio de hoje, 06/06/2011

                                                                                                                                   Bruno.