domingo, 12 de junho de 2011

Inhás Comadres

Assistindo As Centenárias, peça estrelada com maestria pelas atrizes Marieta Severo e Andréa Beltrão, pude notar diversas semelhanças do espetáculo com o universo de Benedita. Como se não bastasse o painel popular, tecido através das vozes de duas carpideiras que contavam e viviam situaçoes diversas durante os cantos nos leitos de morte, o espetáculo remonta também uma grande brincadeira: circo, atriz, personagens, mamulengos. Unidos vertiginosamente numa lona criativa, costurados quase que freneticamente por uma agilidade cênica incrível das atrizes, a platéia seguia e acompanhava passo a passo cada história contada e vivida pelas personagens protagonistas. As vezes, porém, um pouco confusa, tamanha agilidade impressa durante as cenas. Mas que no meu caso, não comprometeu a atenção. Durante os cantos das personagens uma peculiaridade surgia quase que sutilmente sobre aquelas criaturas. Individualizava-as. Os gestos repetidos, marcados: a cabeça balançando, o corpo inclinado, o rosto franzino e, sobretudo, a constução vocal que lindamente definia e caracterizava cada uma. Andréa Beltrão, por exemplo, conseguiu imprimir um tom muito interessante para sua carpideira. Em Benedita, o trabalho vocal vem sendo um ingrediente essencial para a construção da personagem. Assim como na peça As Centenárias, onde essa característica  se destaca, a singularidade da voz de Benedita tem grande valia na corporificação da mesma. Uma vez que os gestos são bem marcados, os trejeitos repetidos e, nesse caso, com pouca agilidade física. Benedita imprime ações mais inertes, pausadas. Grande parte de sua personalidade e de suas características aparecem na composição vocal. O desafio de se criar uma voz feminina, velha e reticente sem se tornar piegas e caricaturada. Interessante ver também na peça os signos dos mamulengos sendo usados como personagens. Ou também os fantoches das duas mulheres rezadeiras. Andréa e Marieta ora assumiam suas funções ora interpretavam outras pessoas da trama. A voz portanto teve uma importância crucial durante a feitura dessas outras vidas. Uma noite feliz e produtiva também. Muito bom se ver no outro, se ver no palco. Inspirar-se. Um "cadinho" de poesia, referências e arte.



As Centenárias. 
Teatro Castro Alves - Salvador (BA)
12/06/2011

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