Meados de Março (2011) quando, de fato, na prática comecei os ensaios, algumas referências me saltaram os olhos. Em Fevereiro,tinha acabado de gravar um filme no interior da Bahia (Braseiro) e lá tive o contato com um grupo de três senhoras cantadeiras que também participaram do curta. Fiquei fascinado. Elas tinham um "quê" daquilo que eu imaginava para Benedita. Eram simples, cada uma na sua peculiaridade. Quando cantavam uma atmosfera nova surgia. Impressionante. Todos paravam para ouvir. Eu não saia de perto delas... Peguei um celular às pressas e gravei tudo o que podia daquele momento único. Não queria filmar mais. Sentei aos seus pés e de lá não tirava os olhos. Fique meio calado, observando cada gesto, cada canto, cada olhar daquelas criaturas tão inspiradoras. Na volta pro hotel, no meio da madrugada, por volta das 4hs, fiz questão de ir no mesmo carro que elas. Acertada decisão. Descemos a serra de Milagres-BA ao som onírico e retumbante daquelas vozes interioranas. Era um misto de reza com cantos num coro muito, mas muito mágico de se ouvir. Numa das minhas conversas uma me disse: Tive três filhos mas todos morreram pequenos. Pneumonia. Meu marido me abandonou... Resolvi cantar pra ver se curava a alma. Eu perguntei: E curou? (uma lágrima desceu dos seus olhos) Bora cantar... que eu to com frio... Nanai, nanai, nanai meu menino... nanai, nanai... nanai meu amor.... E então fomos gravar. Era aquilo. Um estalo. Aquela senhora tinha uma vida inteira nas costas. Ela carregava muita coisa. Seu olhar dizia, seu gesto quase inerte falava, seu canto desaguava. Cheguei no hotel. Tomei banho, deitei na cama. Um,dois,três cobertores.
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